sexta-feira, 8 de junho de 2012

Festas, arraiais e festivais de Verão

Os arraiais dos Santos Populares.
Lá volto eu, de novo, à minha infância.
Na altura em que os vizinhos eram família, que as portas estavam dia e noite abertas, recordo umas das festividades que unia alguns vizinhos da Senhora Santa Ana.
Os preparativos começavam mais cedo para as poucas crianças que ali viviam, onde eu me incluía. Recortar folhas de papel dobradas a fazer desenhos engraçados que depois colávamos num cordel e pendurávmos no sítio onde seria a festa, varrer a rua das pedras e desejar que o dia chegasse era a nossa tarefa.
Eu levava os dias a pensar na festa, o que se iria passar, o que íamos comer, andava eufórica. Na altura as festas eram tão raras que uma preciosidade destas era para se aproveitar ao máximo.
No dia da festa, depois do horário de trabalho, os adultos cortavam alguns ramos da palmeira para enfeitar o "recinto" da festa, colocavam um fio de lâmpadas para iluminar ainda mais o recinto, colocavam o grelhador em sítio certo, as mulheres descascavam as batatas, arranjavam os pimentos para a assar e os tomates para a salada.
Nesta altura já andava "maluca" com a agitação, e por vezes só fazia disparates.
A aparelhagem já tocava as marchas populares.
Aos poucos os vizinhos iam aparecendo para confraternizar.
As mesas já estavam postas na rua, com toalhas de plástico, os copos, pratos e talheres de plástico, as saladas, e os mangericos a enfeitar.
No grelhador as sardinhas já pingam para as brasas. Humm que cheirinho tão bom! As batatas já estão cozidas e a caminho da mesa.
Chego perto da avó e digo que tenho fome. Ela pega num prato com batatas, coloca duas sardinhas, salada e tomate e pimentos, de seguida um copo de laranjada e vou colocar-me no sítio mais elevado que encontro para poder observar a festa no seu todo.
Por vezes esqueço-me de comer para observar a festa.
Vai anoitecendo, as luzes iluminam o cantinho da festa que está bem animada, com dança, cantigas e acima de tudo confraternização entre vizinhos. Até há uma fogueira!
A avó diz que é tarde que tenho que me ir deitar, faço uma pequena birra para ficar, mas mesmo assim ela não deixa.
Já na cama, imagino o que se passará lá fora. As luzes iluminam o quarto, o cheiro das sardinhas a assar deixa-me com água na boca, o som das músicas populares entra pelo quarto embalando-me até o sono chegar.

Era assim há muitos anos atrás.
Hoje em dia a vizinhança envelheceu, outros morreram e as crianças que davam alegria aquele casario de pouco mais de 10 casas foram morar para outro lado, cresceram, casaram.
Quando chega esta altura lembro-me com saudade destas festas.

8 comentários:

  1. Carlota,
    Tenho uma memória muito forte dessas festas, em que a alegria brotava de forma tão autêntica que nada mais parecia importar.
    A simplicidade tem as suas recompensas!

    Beijo :)

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  2. Gostei da tua recordação das festas e Arraiais
    Bjstos

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  3. Carlota
    fiquei com um nó na garganta e de lágrimas a correrem ao ler este teu texto, talvez se não aceitasses o desafio não o escreverias.
    Fez-me recuar no tempo e, vi as festas dos santos populares de que muita saudade tenho, aqui também muitos dos mais velhos já partiram, mas os mais novos não têm iniciativa.
    Bom fim de semana

    Beijinho e uma flor

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  4. Que memórias deliciosas! :)
    Carlota, obrigada por me visitar sem que eu seja assídua. Aprecio muito este blog (que me faz recordar Portalegre) mas tenho andado menos na blogosfera por questões de trabalho.
    Beijinho! :)))

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  5. Por estranho que lhe pareça, há locais onde isso ainda acontece...
    acabei de chegar,
    farto de dançar

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  6. Belo poema em forma de conto
    que narra antigas saudades
    que mata a gente de saudade
    lembranças perdidas
    recordadas
    mais lindo de tudo
    é a narração poemática
    e o coração dolorido
    da poeta...

    Luiz Alfredo - poeta

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  7. Como é bom ter o que recordar, isso aquece a gente por dentro e faz crer que os tempos mudam e as coisas se modificam, mas as recordações de infancia, ainda constroem o nosso futuro.

    bjs muitos de todas nos.

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  8. Sabe porque é que me chamo João Pedro?
    Porque nasci entre o São João e o São Pedro (27 de Junho).
    Para acabar com as discussões entre o meu avô (António José) e o meu padrinho (José António), o meu pai recorreu aos santos populares - João Pedro!! :))
    Bjs e votos de boa semana

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