sexta-feira, 30 de abril de 2010

Isabel

Por que é tão dificil a despedida?
Despedirmo-nos de uma pessoa que foi tão importante na nossa vida, nos últimos 15 anos.
Os bons momentos, as risadas, as gargalhadas. Os maus momentos, o choro, a tristeza. Por tudo isto passámos as duas. És e continuas a ser, sempre a Minha Tia Isabel.
A pequenina Isabel, de Alcobaça.
A pequenina que ia a pé, descalça para a escola. Que viu os irmãos estudar e ela a ajudar os pais no campo. Que se fez mulher. Uma Mulher, como conheci poucas.
O mau humor(como tu dizias frontalidade), o furacão que voltava tudo ao avesso quando era preciso. A mãe amiga, a mulher presente, companheira. A amiga leal, frontal, honesta, AMIGA.
Obrigado por teres feito parte da minha vida, de me ajudares a ser a Mulher que hoje sou.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Salvamento

O dia acordou quente, abafado para o mês de Abril.
A água quente, quase que me queima a pele.
Ando de um lado para o outro, desorientada.
Tenho fome, sede.
Por onde anda quem me alimenta?
Adormeço....
Acordo a meio da tarde. A água escalda. Estou desamparada, só.
Um salto e outro e mais outro.
Onde estou? Que quente, estou a ficar sem ar, sinto o arfar da minha respiração, sinto chegar o fim.
Até que uma mão me pega, e coloca de novo no aquário.
A princípio nado, um pouco desorientada, mas a pouco e pouco volto ao normal.
Ia sendo hoje o dia da minha morte, mas a minha pequenina dona encontrou-me a tempo.
"Mãe, salvei o Douradinho!!" - ouço ela dizer.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Procura..

Glamorosa é a noite brilhante, que anseio em minha vida.
Brilhante, cintilante com estrelas de mil cores, despojada de luar.
Olhar o imenso céu, que me deixa voar, sonhar, desejar; sozinha, triste.
Estar só perto da multidão.
A minha alma vagueia pelo céu à tua procura...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Querer ser criança de novo

Este fim de semana realizou-se a X Feira de Doçaria Conventual de Portalegre.
Para além da quantidade de doces, calorias e tentações houve uma que não passou despercebida, principalmente às mulheres da minha faixa etária e não só. Pois, porque as tias (não as VIP) mas as tias de todos nós com os seus 60, 70 anos também correram ao chamado regional. Correram no sentido lato da palavra.
O motivo não eram os doces, mas sim O DOCE. Sim, que não é todos os dias que temos o Chef Chakall a ensinar-nos a fazer doces. Ensinar, mas às criancinhas que tinham entre 4 e 10 anos. Quantas de nós não desejaram ter novamente 10 anos? Estar assim tão perto de tão elegante presença, mais o seu sotaque. Até eu, que não tenho muito jeito para a doçaria, até aprendia a fazer lampreia com fios de ovos.
As crianças, claro sorriam e brincavam, e até houve algumas com jeito para a coisa. As mães, claro nada ficaram a saber da receita, pois os olhinhos e atenção era dispensada só ao Chef.
Senhores da organização, para o ano lembrem-se que há mães que pouco sabem de cozinha, principalmente ao mesmo nível que o Chef Chakall, por isso queremos aprender a fazer tudo o que seja doçaria conventual.

domingo, 25 de abril de 2010

Um Sonho

O dia acordou cinzento.
Cinzento, não. Negro, como a noite, mágico.
Quem me manda ter um trabalho para o qual tenho que me levantar de noite?.
Saí da cama, tomei um duche e bebi um copo de leite de fugida para não chegar tarde.
A brisa é fresca, o vento ondeia os meus cabelos. Afinal o dia sempre acordou cinzento. Ameaça desabar a qualquer momento.
Atravesso a rua deserta, só. Ouço a bater dos meus sapatos na calçada. Puxo as golas do casaco para cima. Está mais frio do que seria de esperar.
Vejo a paragem do autocarro ao fundo da rua.
Derrepente sinto um calor abrasador.
"Estou aqui" ouço murmurar. Volto-me rápido, não vejo ninguém. Páro, no meio da rua. Olho para as várias janelas dos prédios em redor, para os carros parados e ninguém, não vejo ninguém.
Sigo em frente. A rua vai ficando cada vez mais comprida, quanto mais ando, mais longe estou do meu destino.
"Estou aqui" ouço de novo.
"Quem és?" penso, um pouco assustada.
"Pensei que soubesses."
Continuo o meu caminho, abro um pouco o meu casaco, desabotoo a camisa. Sinto um calor. Apesar de estar uma aragem gélida, o meu corpo arde.
Começa a chover. Primeiro uma chuva miúda que vai engrossando rapidamente.
O meu corpo fica molhado, sinto a água escorrer na minha pele.
A chuva é tão intensa que mal consigo ver o que se passa à minha frente.
Sinto alguém chegar. Não consigo ver bem.
Pegas na minha mão, estás tão quente.
"Estou aqui" dizes de novo.
Vislumbro o teu rosto através da chuva.
Olhamo-nos por momentos. A chuva já não me importa, o vento gélido já nem o sinto.
"Estás aqui" digo.
Abraçamo-nos.
Ficamos assim no meio da rua.
Ao longe o autocarro passa. 

terça-feira, 20 de abril de 2010

Onde estou?

Uma brisa, sopra suavemente na minha face. O sol quente aconchega-me. Onde estou? Os olhos continuam fechados. Começo a mexer o meu corpo, lentamente. Já não há terra que me prende os movimentos? Onde estarei? A custo, entreabro os meus olhos. Vislumbro uma paisagem árida.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Renascer

A água vai correndo intensamente. Longe, bem longe.
O sol queima a minha face. Sol? o sol? Será possível?
Sinto-me perdida...
Onde estou?
Quem sou?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sombrio II

Ouço a chuva ao longe, vai-se aproximando.
Sinto as gotas, perto.
A terra aperta-me cada vez mais, remexe-se como que a lutar pela vida e o meu corpo sofre uma vez mais a sua revolta.
Cai uma gota, e outra. Entram pela terra como o sangue corre pelo nosso corpo. Uma correrria ao tentar chegar mais fundo. Estas passam bem perto, sinto a sua humidade, desfaleço.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Sombrio I

A terra ressequida vai deixando marcas pelo meu corpo.
O pouco ar que me chega, faz adivinhar uma trovoada. Água, vem aí água.
Os segundos passam, os minutos. Impaciente tento mexer-me, é dura a terra que me envolve.
Ao longe o céu troveja, o cheiro húmido chega perto, enlouqueço.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sombrio

O dia nasceu cinzento, sombrio, gélido.
A escuridão tem sido a minha companhia, sinto o meu corpo transformar-se dia a dia. A terra rasga-me a pele à medida que vou emergindo, uma ânsia em sair. Sinto-me apertada, sem ar, sufocando lentamente.
Água, necessito água.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Velhos Tempos...

2ªfeira de Páscoa, o dia a seguir a mais uma festividade familiar, que na minha infância era o dia mais importante desta data.
Assim que as férias escolares começavam, iam-se juntando as cascas dos ovos para pintar (que "briga" havia para convencer a avó a não partir os ovos), faziam-se umas cestas improvisadas em papel, com colagens de revistas. Claro, que só quem tinha direito às obras de arte eram, os "mais velhos".
Na 5ªfeira santa, começava a preparação mental, ficar 3dias sem comer carne, que era quando nos apetecia mais. (houve um dia que me esqueci, e chorei toda a noite a pensar que Jesus me ia castigar).
6ªfeira santa, sendo feriado nacional, toda a gente trabalhava.
Sábado acordávamos tarde, só a sonhar com a carne, que já não comíamos há dois dias, acho que até sonhávamos com o chouriço, e com o porquito nessas noites. Assim que batiam as 15h, era preparado um dos lanches mais apetecidos por todos, que para além das iguarias da época, tinha carne, eheheheh.
Domingo começava com a missa, muitas das vezes, vista pela televisão, e a preparação do almoço. Cabrito, borrego (que eu odiava, só o cheiro me agoniava) e que há conta disso nem saboreava bem o almoço, pois as tentativas para que eu o comesse eram mais que muitas, e então o meu almoço reduzia-se a uma fatia de pão com manteiga e açucar e uma peça de fruta (hoje em dia uma saladita já era bom). Há tarde, conversava-se sobre os tempos antigos, do tempo de infância dos avós, dos tios e das nossas traquinices.
A noite de domingo para 2ª era longa, pois a festa que nos esperava, nem nos deixava dormir.
2ª feira, finalmente. Acordava-se cedo, preparava-se o piquenique e como eramos muitos e só havia um carro, a viagem tinha que ser feita por 3 ou 4 vezes. Primeiro iam as cozinheiras, para arrumar o melhor sítio, colocar as mesas e preparar mais alguma coisa que fosse preciso. As crianças iam aos poucos, não podiam ir todos juntos, e depois era uma briga para ver quem ia primeiro.
Depois de todas as viagens feitas e de estar tudo no campo, as crianças brincavam, os homens bebiam o seu copito, as mulheres "ralhavam" e tudo era inocente, o dia parecia nunca acabar, as brincadeiras, tinham um outro sabor, sabor a liberdade.
Ao anoitecer, já as crianças cambaleavam de sono, umas para cima das outras, os homens ajudavam a arrumar as coisas, as mulheres a ver se estava tudo pronto, a ver se não ficava nada perdido no campo (acabava sempre por lá ficar alguma coisa), tudo sorria.
Mais 3 ou 4 viagens e estava tudo em casa, feliz.
As mãos cheias de flores, as calças sujas, despenteada, acho que até era capaz de comer cabrito (se gostasse), sorria, sonhava, e desejava que a Páscoa voltasse depressa. E as amêndoas que eram feitas na minha terra, tinham um sabor tão bom, caseiras.
Hoje, claro já nada é assim. Cada um foi para o seu lado e já ninguém se lembra daqueles tempos, que hoje aqui recordo com saudade.