sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Rosto

O vidro mostra o reflexo de uma cara envelhecida.
Não sei quantos anos passaram.
A "loucura" enclausurou-me do mundo. O mundo que em tempos vi verde, azul, vermelho, de todas as cores possíveis e imaginárias.
A dor, a perda, tomaram conta de mim. Deixei-me levar, como se leva uma criança pela mão. O início foi bastante doloroso, uma dor que sufocava o meu peito, deixava-me sem ar, deixando-me esgotada, exausta.
As lágrimas, escorriam pelas faces.
Quis morrer. A vida não fazia sentido.
Dava por mim a vaguear pelas ruas, de noite, de dia. Nem sei quantos dias passaram sem que comesse, bebesse. Queria esquecer quem fora, queria esquecer a dor, essa dor sufocante.
Sorria, cantava, gritava. O mundo passou a ser o que eu queria. Se hoje chovia, amanhã nevava. Se agora era dia, logo era noite. Fui vivendo ao sabor do vento.
Fui esquecendo.
Perdi-me.
Agora, encontrei-me. Não conheço quem está no vidro. O cabelo grisalho, a pele enrugada, o olhar triste. Olho para as minhas mãos, vejo uma pequena cicatriz na mão esquerda. Eu tinha uma cicatriz igual. Mas era nova, o cabelo tinha uma pequena madeixa de brancos, à frente, a pele era lisa, o olhar, meu Deus o olhar, olhos mágicos os meus.
Onde estou? Quem sou?
Uma lágrima, escorre pela face.
O vidro embacia-se. Vou deixando de ver aquele rosto velho, enrugado.
Ao longe, o mar revolto, bate nas rochas

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