2ªfeira de Páscoa, o dia a seguir a mais uma festividade familiar, que na minha infância era o dia mais importante desta data.
Assim que as férias escolares começavam, iam-se juntando as cascas dos ovos para pintar (que "briga" havia para convencer a avó a não partir os ovos), faziam-se umas cestas improvisadas em papel, com colagens de revistas. Claro, que só quem tinha direito às obras de arte eram, os "mais velhos".
Na 5ªfeira santa, começava a preparação mental, ficar 3dias sem comer carne, que era quando nos apetecia mais. (houve um dia que me esqueci, e chorei toda a noite a pensar que Jesus me ia castigar).
6ªfeira santa, sendo feriado nacional, toda a gente trabalhava.
Sábado acordávamos tarde, só a sonhar com a carne, que já não comíamos há dois dias, acho que até sonhávamos com o chouriço, e com o porquito nessas noites. Assim que batiam as 15h, era preparado um dos lanches mais apetecidos por todos, que para além das iguarias da época, tinha carne, eheheheh.
Domingo começava com a missa, muitas das vezes, vista pela televisão, e a preparação do almoço. Cabrito, borrego (que eu odiava, só o cheiro me agoniava) e que há conta disso nem saboreava bem o almoço, pois as tentativas para que eu o comesse eram mais que muitas, e então o meu almoço reduzia-se a uma fatia de pão com manteiga e açucar e uma peça de fruta (hoje em dia uma saladita já era bom). Há tarde, conversava-se sobre os tempos antigos, do tempo de infância dos avós, dos tios e das nossas traquinices.
A noite de domingo para 2ª era longa, pois a festa que nos esperava, nem nos deixava dormir.
2ª feira, finalmente. Acordava-se cedo, preparava-se o piquenique e como eramos muitos e só havia um carro, a viagem tinha que ser feita por 3 ou 4 vezes. Primeiro iam as cozinheiras, para arrumar o melhor sítio, colocar as mesas e preparar mais alguma coisa que fosse preciso. As crianças iam aos poucos, não podiam ir todos juntos, e depois era uma briga para ver quem ia primeiro.
Depois de todas as viagens feitas e de estar tudo no campo, as crianças brincavam, os homens bebiam o seu copito, as mulheres "ralhavam" e tudo era inocente, o dia parecia nunca acabar, as brincadeiras, tinham um outro sabor, sabor a liberdade.
Ao anoitecer, já as crianças cambaleavam de sono, umas para cima das outras, os homens ajudavam a arrumar as coisas, as mulheres a ver se estava tudo pronto, a ver se não ficava nada perdido no campo (acabava sempre por lá ficar alguma coisa), tudo sorria.
Mais 3 ou 4 viagens e estava tudo em casa, feliz.
As mãos cheias de flores, as calças sujas, despenteada, acho que até era capaz de comer cabrito (se gostasse), sorria, sonhava, e desejava que a Páscoa voltasse depressa. E as amêndoas que eram feitas na minha terra, tinham um sabor tão bom, caseiras.
Hoje, claro já nada é assim. Cada um foi para o seu lado e já ninguém se lembra daqueles tempos, que hoje aqui recordo com saudade.
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