quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Olhares
Uma vez mais a cortina é fechada ao final do dia. É ali, que o meu olhar se despede de ti.
Hoje fiquei mais um pouco contemplando o teu ser, a tua beleza. Sorrio, tentando imaginar o dia em que terei coragem de falar contigo, de ouvir a tua voz não a falar para outros, a tua voz a falar para mim, o teu olhar ver somente o meu, o teu sorriso ser somente para mim. Invisível. Toda a vida invisível num mundo repleto de gente. Todos os olhares, sorrisos, vozes atiradas contra mim.
Quantas vezes passámos lado a lado, entrámos ao mesmo tempo pela mesma porta, e o meu coração batia tão forte que dava por mim a pensar que toda a gente o conseguiria ouvir bater, o rubor inundava a minha face, e tu, simplesmente passavas e nem me vias.
É daqui, desta janela, escondida pela vegetação que o arco íris ilumina todos os meus dias. Quando chegas e colocas a pasta em cima da secretária, o casaco despido meio sem jeito e arrumado no bengaleiro; olhas em redor pela sala, até o olhar ficar preso na janela observando a mesma paisagem que eu; o dedo que carrega no play do computador; as moedas tiradas do bolso das calças para o café.
Diriges-te para a porta e sais, deixando a sala de novo vazia, mas tão presente com o teu ser.
Algum tempo depois volto a olhar e já te encontras sentado por vezes a escrever no computador, outras organizando documentação que te é solicitada. São poucas as vezes que olhas de novo cá para fora. Outras vezes tens reuniões infindáveis, com gente que muitas vezes deves achar aborrecidas, pois são tantas as vezes que olhas para o "nosso" jardim.
É deste lado de cá que tanta vez falo contigo e imagino que também tu, falas comigo. Diálogos de palavras, frases, entoações que só nós entendemos.
Lá fora, o Outono tem anunciado a sua chegada. O vento sopra forte, as nuvens vão escurecendo o céu, fazendo com que pequenas gotas saltitem por aqui e por ali, lavando o manto florestal, deixando o pequeno jardim ainda mais bonito.
Olho para o céu e sorrio, uma noite de chuva. Fabuloso!
Quando o olhar desce, encontra a tua sala escura, vazia. A beleza do Outono distraiu-me e hoje não me despedi de ti.
A cortina desliza escurecendo a minha sala. Amanhã é um novo dia.
Pego no casaco e percorro os vários corredores até à porta de saída. Pelo caminho o meu ser vagueia, pensando em ti, entristecendo-me. O olhar cabisbaixo, envergonhado segue o percurso rotineiro. Na mão as chaves de tanto telintar, escorregam e acabam por cair ao chão. Baixo-me um pouco para as apanhar, mas antes de mim, já outras mãos as apanharam. O olhar percorre o corpo que se encontra à minha frente, até encontrar a face e ali estás tu, sorrindo para mim. Nada consigo fazer ou dizer a não ser olhar. O teu rosto passa perto do meu, e os teus lábios sussuram ao meu ouvido "Até amanhã musa do meu jardim" e vais embora.
Na manhã seguinte, ao correr a cortina, encontro um bilhete preso na janela. " Bom dia. Não te escondas mais atrás da janela".
O meu olhar percorre o pequeno jardim até encontrar um olhar, um sorriso do outro lado, atrás do vidro.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Belissimo :)
ResponderEliminarFaz-me sonhar com esses jardim, esse corredor, essa sala...
Obrigado por tão belas palavras
Beijinhos
Luis
Belo simplesmente!
ResponderEliminarbeijinho e uma flor