sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Monotonias

Imagem retirada da net 

Mais uma noite mal dormida. A que agora termina deixou marcas profundas no corpo já cansado.
Refugio o meu ser pelos labirintos nocturnos que enaltecem a minha alma.
É pela noite dentro, na solidão do meu quarto, no refúgio que me aconchega, que liberto toda a minha essência. Desmascaro os meus desejos, os meus sonhos, a minha paixão.
Encontro uma manhã negra onde as nuvens despejam com toda a fúria, por momentos, as pequenas partículas suspensas na atmosfera.
Percorro as ruas desertas, onde o guarda-chuva é o meu abrigo. Por cada rua que passo, por cada porta, por cada janela, recordo os sorrisos, as faces que lá habitam ou que já habitaram. Faces que me têm marcado ao longo da minha vida.
Chego ao meu destino, ao sítio onde passo os meus dias, onde o meu corpo, o meu ser se limita a ser um mero objecto de trabalho.
Pela secretária acumulam-se resmas de documentos de um lado e do outro, sempre a mesma monotonia!
Quero fugir!
Quero correr!
O meu olhar desliza até à janela que se encontra aberta, deixando a aragem outonal entrar. Lá fora a chuva continua a marcar presença.
Lentamente a minha alma abandona o meu corpo, correndo para longe. Sinto a chuva molhar o meu rosto, sinto a aragem fresca da manhã. Vejo o verdejante manto que cobre as terras, as árvores que se despem a cada rabanada de vento, o riacho que corre mais forte após as primeiras chuvas. Ao longe, as vacas na sua monotonia.
O céu cinzento contrasta com o verde, os castanhos, os rubros, os vermelhos outonais. Uma paisagem magnífica.
Sorrio a cada passada dada, por cada músculo do meu corpo que se movimenta ora mais aparessado, ora mais lentamente.
As gotas que molham o meu rosto, começam a cair mais forte, acordando-me do pequeno sonho. A minha face encostada à janela, observa a paisagem lá fora. Era uma sonho!
Ajeito os óculos e dirigo-me para a papelada, embrenhando-me no trabalho. Uma folha, e outra, e outra até ao final do dia. 
Fisicamente aqui, fechado entre quatro paredes, mentalmente lá fora, correndo livremente pelo manto outonal.

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