Imagem retirada de uma página do facebook
O tempo corre sempre depressa demais.
Ainda há pouco tempo o meu corpo contorcia-se, brigando muitas vezes com o punhado de terra que aprisionava o meu corpo.
Quando esse mesmo corpo começou a tomar forma, as pequenas raízes unidas num único caule fino foi emergindo pouco a pouco até vislumbrar a luz do dia, da noite.
Pela primeira vez senti a chuva cair em seu frágil corpo, já não escorria pela terra árida, seca, chegando muitas vezes até mim, uma pequena gota que se deixava sugar ferozmente pela minha ânsia.
Do frágil corpo emergiram pequenos galhos que se foram distribuíndo por todos os lados, parecendo que queriam abraçar tudo à sua volta. Dos pequenos galhos, apareceram as primeiras folhas verdes, as primeiras flores e até os primeiros frutos.
E assim foi anos seguidos, ficando cada vez mais alta, cada vez mais forte. Até pequenos pássaros construíam seus ninhos nos meus braços cada vez mais fortes.
A primavera mais fresca ia aquecendo ao longo das semanas até o árido sol de verão quase secar a minha nascente.
O outono, tão belo e romântico com a queda das folhas que aos poucos ficavam rubras, amareladas, até ao castanho seco que as fazia desprender-se, começando o mais belo bailado até ao manto aveludado que as recebiam já no chão.
O inverno, muitas vezes bem rigoroso com chuva forte, frio, neve, deixava os meus despidos braços tão frágeis. Mas o tempo avançava, até chegar de novo a primavera.
Mas um dia, já a minha copa era das mais frondosas do bosque, um ser estranho à minha vista, foi tocando o meu corpo, contorcendo um pouco os meus braços, até que um barrulho estridente assustou-me e antes que tivesse tempo de pensar em algo mais, feriram o meu corpo, a minha vida.
Quando acordei, pouco restava do que fora. Uma pequena rodela de madeira, sem ramos, sem galhos, sem folhas. Cortaram-me a alma.
Chorei dias, semanas, meses.
Já nada me alegrava.
Aos poucos ia secando por dentro, a minha alma estava desfeita.
Certo dia, ao acordar, senti algo depositado em cima de mim.
Uma pequena caixa de madeira, fechada. O seu cheiro era-me familiar. Um dos meus ramos voltou para casa, voltou para mim.
Ainda consegui cheirar o meu novo ser e pouco a pouco sequei para sempre.
O vento soprava ameno.
O início de Outubro chegou com um outono ameno. A folhagem esverdeada ia dando lugar à roupagem outonal.
A pequena caixa pousada no tronco da árvore mexeu-se um pouco. O movimento fez parar tudo em volta. O céu escureceu um pouco.
Magicamente a caixa entreabriu-se e o meu corpo emergiu rodopiando pelo ar, deixando atrás de si um rasto de folhas secas.
O manto outonal vestido, foi caíndo aos poucos.
Olhei uma última vez, o lugar que me viu nascer, sorri e voei para longe, deixando o rasto de folhas secas atrás de mim, lembrando o rasto de uma estrela cadente.